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por David Vessel

O cinema erótico surgiu tão logo as primeiras filmadoras chegaram ao alcance do público. E como não poderia deixar de ser, os franceses foram os pioneiros: o primeiro pornô conhecido é A L'Ecu D'Or (ou La Bonne Auberge), de 1908. Desde este nada tímido início, a produção no gênero não parou mais.

Embora os registros da época sejam esparsos, é fato comprovado que, no mesmo ano de 1908, a Europa se viu assolada por "filmes obscenos" - a ponto do governo russo criar leis proibindo sua exibição. Um cinema de Moscou, adequadamente chamado de Mephistoles Kino, tentou desafiar a lei anunciando uma programação exclusiva ao "estilo parisiense". Foi fechado antes mesmo de começar a vender ingressos.

Mas apesar de todo esse escândalo, os primeiros pomôs eram bem inocentes, limitando-se a mostrar moças em trajes menores fazendo coquetices para a câmera. Entre eles havia até um brasileiro, O Filme do Diabo (de 1917). E embora material mais pesado circulasse clandestinamente pela Europa, a primeira exibição comercial de um filme com sexo explícito - a produção sueca Dom Kallar Oss Mods – só aconteceu em 1967.

Desde então muita água rolou debaixo da ponte, e o cinema erótico tornou-se, a partir de meados dos anos de 1970, era um negócio altamente lucrativo que garantiu – naquela época - as aposentadorias (relativamente) tranqüilas para quase todos os envolvidos – conforme veremos mais adiante.

Um dos filmes mais bem-sucedidos dessa época foi a comédia Garganta Profunda (estrelado por Linda Lovelace) que custou U$ 25 mil (financiados pela Máfia), rendeu mais de U$ 5 milhões em dois anos, teve bilheterias superiores às de No Fundo do Coração e Era uma Vez na América, e tirou o cinema explícito da clandestinidade - pelo menos durante alguns meses.

Chamado de "Ben Hur do pornô-chic" (pela Variety) e "O Poderoso Chefão do cinema erótico" (por Frank Yablans, presidente da Paramount), Garganta ganhou fãs ilustres como o escritor Truman Capote, Frank Sinatra e até o vice-presidente do governo Nixon, Spiro Agnew. Outro exemplo de sucesso aconteceu aqui mesmo no Brasil: Coisas Eróticas, de Rafaelle Rossi e L. Calacchio custou quarenta milhões de cruzeiros (isso pela moeda de 1981!) e, três anos depois, já tinha rendido quinhentos milhões! (12,5 vezes de lucro sobre o capital investido!). Vale lembrar que naquela época a exibição de pornôs era restrita a um número reduzido de salas especiais - sendo que muitas delas funcionam desde as nove da manhã, enquanto cinemas comerciais geralmente abrem depois do meio-dia.

Segundo o The Guiness Book of Movie Facts and Feats, a produtora mais prolífica daquela época era a japonesa Nikkatsu, que lançou 57 filmes tipo "Roman Pomo Movies" (termo japonês para erotismo soft) em 1986. Nenhum deles tinha sexo explícito, ilegal no país, e cada um teve custo médio de U$ 152 mil. O que não é nada se comparado às companhias que eram as mais atuantes da Europa. Só na Alemanha existiam mais de 500 produtoras; destas, as quatro maiores (DMB, VTO, Carol Lynn e Magma) colocavam, por ano, mais de quatrocentos filmes novos no mercado ao custo de U$ 20 mil cada. Na Holanda, a Seventeen e a Kristina Bellanova Video lançavam entre 170 e 210 filmes/ano, e a Colmax francesa, embora tivesse uma produção bem mais modesta (oito à quinze filmes/ano), era a que mais investia: alguns de seus épicos eróticos chegaram a custar U$ 1 milhão. Mas o pornô mais caro de todos os tempos foi o célebre Caligula, de Tinto Brass, no qual foi investido a fortuna de US$ 15 milhões.

O pornobiz daquela áurea época teve vários milionários. Um dos mais famosos foi o sueco Berth Milton, que era dono do império Private (uma das séries eróticas mais vendidas e alugadas no Brasil quando as fitas VHS imperavam). Seus bens incluíam um avião Lear Jet, um helicóptero, oito casas em várias partes do mundo (inclusive em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro), doze barcos e quinze carros - sendo que oito deles limusines. Mas seu investimento mais ambicioso foi o castelo medieval italiano que mandou transportar, pedra por pedra, até a Suíça. Logo atrás estava o alemão Dino Baumberger, da DBM, que possuía a maior cadeia de sexshops da Europa (650 lojas), uma frota de limusines e até um time de futebol!

O americano John "Buttrnan" Stagliano era menos ostensivo e preferia investir em equipamentos e, em sua mansãozinha em Malibu, mas isso não quer dizer que ele seja o primo pobre dos europeus: seus filmes renderam mais de 2 milhões de cópias/ano só nos Estados Unidos, e esse sucesso todo não fica por lá: quando decidiu em 1988 abrir em São Paulo a filial de sua produtora Elegant Angel, Stagliano nem imaginava que o mercado brasileiro fosse tão lucrativo, consumindo nada menos que 1,200 milhão cópias/ano!

Além de ser um negócio próspero nessa época, o pornobiz gerou personagens famosos por seus prodígios sexuais sobre-humanos. Um dos mais celebrados foi John Holmes, ainda o maior astro do gênero. Maior em todos os sentidos: além de ostentar um membro assustador (38 centímetros pela lenda, 33 pela régua - o que ainda é muito), atuou em cerca de 2.500 filmes e transou com mais de 15 mil mulheres (e vários homens também, mas estes ninguém contou).

Morreu de AIDS em março de 1988 num hospital para veteranos de guerra, deixando uma lacuna irreparável. Ainda hoje se procura um substituto à altura - ou melhor, comprimento.

  Alguns candidatos ao posto foram Buddy Love, com 32 cm, e o porto-riquenho Dick Rambone, que mal conseguia erguer seus alegados 40 cm. Houve ainda o negro Long Dong Silver, com um mastro recordista de 45,5 cm, comprovados; mas o infeliz só teve uma ereção na vida, quase morreu por falta de sangue no cérebro e nunca mais tentou tal façanha. Passou depois a excursionar pela Europa, apresentando seu famoso número de dar dois nós no membro e enrolar o que sobrava na cintura.

Outros que chegaram perto de iguar Holmes foram Ron Jeremy (com seus 27,5 cm e capaz de praticar autofelação), Jeff Stryker, Rocco Sifreddi (26,5 cm e 27 cm, respectivamente) e o astro gay Brad Stone, com 31,5. Igualmente bem-servido é Peter North (26 cm), mas este impressionava por outro motivo: sua incrível emissão espermática de 90 ml, que alcançava 1,5 m de distância e, quando o rapaz se distraia, volta e meia encharcava alguém da equipe técnica. Apelidado de “beer can” (latinha de cerveja), North já encheu uma taça de vinho numa única ejaculação. Seu único rival foi o americano Rodney Moore, que expelia uma média de 80 ml por gozo.

Existiram outros mais modestos em comprimento, mas que esbanjavam na grossura. Um deles foi o holandês Jos, que sofre de uma rara doença: elefantíase peniana. Ereto, seu membro tem 21 centímetros... mas de diâmetro!

Mas este fenômeno, exibido em filmes como Sex Freaks e Snuif-O-Rama, não é nada agradável aos olhos. Muito pelo contrário: quem assistir deve se preparar para uma visão deprimente - um pênis deformado, grotescamente inchado e cheio de cicatrizes (Jos tentou se castrar várias vezes). O próprio ator não escondia seu desconforto diante das câmeras, pois só trabalhava nesse ramo para conseguir dinheiro e tratar sua doença.

Até 1991, uma das maiores proezas sexuais foi a da holandesa Amy, de 18 anos, que encarou 114 homens no filme Chicles Fuck Marathon. Este épico durava quatro horas e, na época do lançamento, bateu mais dois recordes: transa anal mais longa (1:43 h., com a mesma Amy) e maior número de atores numa cena de sexo grupal (26) - só não é o pornô mais longo de todos os tempos porque Taboo American-Style tem, em sua versão completa, 5 horas e 20 minutos. Destes, dois já foram quebrados. A maior cena grupal está em Colossal Orgy, que reúne 50 astros americanos.

E em janeiro de 1995 o diretor John T. Bone tentou realizar seu projeto mais ambicioso: filmar a atriz Annabel Chong fazendo amor com 300 homens. Não chegou a tanto: vinte e um atores convidados não compareceram, outros simplesmente falharam no cumprimento do dever, e a própria Annabel ficou bastante machucada durante as filmagens (também, pudera!). Moral da história: no fim das contas, a moça transou com “apenas” 251 sujeitos num período de doze horas - mais que o dobro de Amy. Para quem quiser conferir esta façanha, o vídeo foi lançado no Brasil com o título Ela Transa 251 Homens. E ficou logo desatualizado: em agosto de 1995, a alemãzinha Irina bateu o recorde de Annabel ao transar com 312 caras num período de 22 horas!

Annabel Chong também concorreu ao posto de atriz mais devassa: em seus outros filmes se dedicou a cenas de dupla penetração anal. Embora seja algo relativamente comum em fitas gay (o especialista era o negro Randy Cochran), no gênero hetero isso só tinha sido feito até então por algumas poucas atrizes, caso das americanas Brittany Stryker em Por Trás de Hollywood 2 (que nunca mais repetiu a dose), Tammi Ann em Fantasias Depravadas e a italiana Manya em Manya Anale.

É fácil entender por que tantas moças entraram de cabeça nesse ramo naquela época: se tinham sorte e os predicados necessários, podiam ficar ricas em menos de um ano. Traci Lords recebia um cachê diário de U$ 1.000 mais um abono mensal de U$ 10 mil, enquanto Ginger Lynn não trabalhava por menos que U$ 5 mil por filme. A mais bem paga de todas era a falecida Savannah (se suicidou depois que teve o rosto desfigurado num acidente de carro), cujos últimos cachês eram de U$ 9 mil por dia de trabalho. Mas isso nem se compara à fortuna que John Wayne Bobbitt, famoso após ter sido castrado pela esposa Lorena, recebeu para mostrar seu pênis reimplantado em ação, na fita John Wayne Bobbitt Sem Cortes: nada menos que U$ 1 milhão!

E a prostituta Divine Brown, famosa por seu affair automobilístico com o ator Hugh Grant (a polícia pegou ela fazendo um boquete em Grant), também ganhou uma bolada semelhante para demonstrar suas habilidades orais em vídeo.

Às vezes certas atrizes ficam tão manjadas que o jeito é mudar de cara. Foi o caso de RacheI Ryan, ex-namorada de Michael Batrnan Keaton. Ela foi uma das que mais trocaram de identidade ao longo da carreira. Desde 1984, ela trabalhou sob os pseudônimos "Serena", "Ingrid Elliott" e "Penny Morgan"; em 1990, fez uma cirurgia plástica e voltou ao mercado com outro rosto e o novo nome.

Menos radical é Jeanna Fine, que para evitar desgastar a imagem, saia periodicamente de cena e retornava com novo visual. Jeanna já foi loira de olhos azuis, morena de cabelos longos e olhos negros, e na sua última volta, olhos castanhos e cabelo curto.

Também existiram novatas que não hesitaram em ir no vácuo das grandes estrelas. Ginger Lynn e Amber Lynn, as maiores lendas vivas do gênero até hoje, são as que mais tinham "parentes" no ramo: Debra Lynn, Rebecca Lynn, Mercedez Lynn, Veronica Lynn, Cameron Lynn, Shauna Lynn, Geanna Lynn, Brianna Lynn, Carol Lynn, Traci Lynn, Micky Lynn, Lynn LeMay, Lynn Dyan e a que foi a sensação, Krysti Lynn.

Tem gente que continuou no batente mesmo depois que passou da idade. Foi o caso de Helga Svên, que rodou sua última fita aos 62 anos. E ela nem mesmo é a mais velha: Inga Schnõll, atriz húngara que começou a filmar em 1932, estrelou aos 75 anos a produção alemã Appleknockers (1991) - cujo elenco contou com o francês Aubert Leray, de 81 anos e também em plena atividade, embora tenha que ser substituído por um dublê nas cenas de "ação".

Já por volta de 1990 o pomô começou a ter atrizes estilo "mulherão", com atributos físicos bem avantajados. Era o caso de Chessie Moore, Wendy Whoopers e até a brasileira Angelita (ou Angelique, como é conhecida nos EUA), donas de seios maiores que bolas de basquete. Este elenco está na fita Big Seios, produzida e lançada no Brasil pela Renault Vídeo.

As altonas também davam ibope, como Debi Diamond (l,82 cm), Lauren Brice (1,83), Chanel Price (1,90), Carol Lynn (1,92), Sahara Sands (1,94) e a alemã Carmel (2,05). Entre os homens havia Michael Knight, com 2,05 cm, que não fez sucesso porque lhe sobrava em altura o que lhe faltava em comprimento.

As vezes a coisa chegava ao exagero. Teve um filme chamado Fofuras que estrela três atrizes de peso, literalmente: Teighlor, com 317 kg, Unique Love, com 218, e Patty Parker, com 198. Parece piada, mas as camas que usadas na fita foram construídas sob encomenda, reforçadas com travões de ferro. É que durante uma cena lésbica de Uma Revolta da Pesada, também estrelando atrizes obesas como Miss Twin Towers (250 kg) e Layla LaSheIle (231 kg), esta última quebrou a cama com seu peso, mandando sua coadjuvante (Cassi Nova, de 82 kg) para o hospital com duas costelas quebradas

O grande problema com o pomô é que certos diretores não conheciam limites. O americano Ed DeRoos, que trabalhava sob o pseudônimo "Loretta Sterling" (embora nunca escondesse o fato que é homem), era famoso por filmes com mulheres gordas; feias, peludas, anãs ou grávidas; entretanto, esse material é inofensivo perto das fitas mais ultrajantes que se fazia (ou se faz?) na Europa. A Bizarre Intemational, especializada em zoofilia, lançou vários vídeos com títulos bem sugestivos: O Curral do Amor, Vaqueiros do Prazer, A Ninfeta e o Pastor, Enguias Para o Prazer, Gay Dog e Seduzida por um Porcão - e muitos deles foram rodados no Brasil, com atrizes, atores (e animais!) de Minas Gerais.

Numa linha ainda mais cascuda, existiam as séries Still Life e Blue Skin - que mostram homens fazendo sexo com cadáveres! Bem mais brochantes são os filmes holandeses da Snuff-O-Rama, especializados em automutilação. Num deles, uma atriz tira o olho de vidro para que seu parceiro introduza o pênis na órbita vazia; noutro, uma moça tem os pés e mãos pregados a uma mesa. E estas atrocidades são apenas as que podemos citar!

Acredita-se que o cinema erótico destruía o futuro dos envolvidos. De certa forma isso é verdade; vide Megan Leigh, Savannah, Shauna Grant e Cal Jammer, que cometeram suicídio ainda jovens. Mas houve quem saísse ileso, e até conseguisse seu lugar em Hollywood. Marilyn Chambers, de Atrás da Porta Verde, chegou a trabalhar com David Cronemberg em Enraivecida - Na Fúria do Sexo, onde interpretava uma espécie de vampira. A texana Barbara Dare, uma das maiores estrelas dos anos 80, também tem um longo currículo off-pomô: está em Millenium Countdown, Smooth Talker, The Alien Within, Inner Sanctum, Little Devils, Magias do Mal (Evil Toons), Shock 'Em Dead e Camp Fear. E muitos outros astros fizeram suas escapadinhas para o cinema comercial, especialmente em fitas de horror - caso de KeIly Nichols (The Toolbox Murders), Ron Jeremy (They Bite!), Sharon MitcheIl (Maniac) e Heather Hunter (Frankenhooker - Que Pedaço de Mulher; melhor chance tiveram Richard Bolla (uma ponta em A Garota do Adeus e Jamie Gillis (que fez Falcões da Noite ao lado de Sylvester Stallone).

De todos, as mais bem-sucedidas foram mesmo Ginger Lynn e Traci Lords. Ginger, que se aposentou por medo da AIDS, assumiu o nome artístico de Ginger Lynn AIlen e estrelou algumas comédias (Loucademia de Polícia Feminina, Um Filme Muito Louco) e terrores B (Enterrado Vivo, Mind, Body and Soul). Também fez pontas em filmes maiores como A Prostituta, de Ken RusseIl, e Jovem Demais Para Morrer. E se não chegou a despontar como estrela, ao menos conseguiu papel de destaque no videogame em CD-ROM Wing Commander III, onde atuou lado a lado com Malcolm McDowall e Mark Hammill.

Mais sortuda foi Traci Lords, que tinha 15 anos (e uma identidade falsa) quando ingressou no pornobiz. Em 1986, o FBI descobriu que a moça era menor e deu uma blitz em todo o mercado. Os diretores que trabalharam com ela foram presos, e todos os seus filmes saíram de circulação. Mas o passado de Traci não a impediu de trabalhar como atriz normal; e começou muito bem, numa ponta em The Green House of Mr. Jack ao lado de MicheIle Pfeiffer e Tony Curtis.

De lá pra cá, não parou mais: fez Fast Food, Nervos à Flor da Pele, A Time to Die, Shock 'Em Dead, Vampiros das Estrelas, Cry-Baby, The Nutty Nut, Porto do Crime e Iced, entre outros, além das séries para TV: O Homem da Máfia, Profissão: Perigo, Super Force, Tommyknockers - Tranquem Suas Portas, e Um Amor de Família, (sucesso de público e crítica, com 11 temporadas, onde Traci fazia a filha de 19, 20 anos de Al Bundy, o chefe-de-família, e ela, Kelly, sua filha bonita, gostosa, burra e promíscua).

Também teve papéis fixos nas séries Melrose (exibida pela Globo) e Roseanne, e até chegou a ser convidada para ser a namorada de Robert DeNiro em Casino, de Martin Scorse, mas não foi páreo para Sharon Stone.

Ela até se aventurou na música gravando o álbum “1.000 Fires”, lançado em março de 1995, e que chegou ao segundo lugar nas paradas americanas. Deste modo Traci foi uma das raríssimas estrelas do pornô que, mesmo aposentadas do pomô, continuaram batendo recordes.


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